Acho que a maioria das pessoas se engana ao pensar que a vida é feita de decisões, quando na verdade é justamente o contrário.
Passamos muito mais tempo sentados em nossas dúvidas antes de tomar alguma decisão do que em pé anunciando-as. Longo é o tempo também, deitado inquieto a pensar o que poderia ter sido diferente.
Logo a vida é feita de dúvidas e não de decisões, que por vezes nem acontecem. Muitas vezes passamos direto da incerteza de como agir para o arrependimento de nada ter feito.
Por isso, talvez, aquela época tenha sido tão especial. Por algum tempo não havia dúvida pairando, as que trazia comigo deixaram de fazer sentido e por alguma combinação de fatores de probabilidade desprezível, não foram imediatamente substituídas por outras.
É preciso entender que a ausência de dúvida não é sinônimo de certeza. Esclarecida, uma dúvida não é substituída por uma certeza. Uma outra dúvida rapidamente se abanca no lugar vago sem pedir licença, como numa dança de cadeiras. A certeza, em pé, polida e estupefata.
Naqueles dias, não havia dúvidas, tampouco certeza alguma. Ambas as categorias estavam totalmente ausentes, como se não fizesse sentido essa ou qualquer dicotomia: o mundo não se dividia em temor e esperanças, dor e prazer, angústia e alívio…
Havia apenas duas possibilidades, ser ou não ser.
E fomos.