Não me parece exagero a afirmação de que enxergamos, entendemos e explicamos o universo recorrendo a dualidades. Vida e morte, espírito e matéria, luz e treva, bem e mal…
Talvez a dualidade esteja implícita, enquanto princípio, na própria natureza do universo. Talvez seja uma imposição à nossa capacidade dedutiva, uma limitação ditada pelo senso comum à razão.
Fato é que, seja imaginando um universo constante regido por princípios opostos e complementares, seja imaginado um momento em que a unidade primordial começa a se desdobrar para originar toda a variedade observada a seu redor, o homem coloca o número dois como estágio necessário para atingir a multiplicidade.
Em que respalde-se esta noção na observação de inúmeros processos básicos, como a reprodução dos seres unicelulares e das células dos seres pluricelulares; as forças de atração e repulsão magnéticas e as cargas elétricas; ainda que seja a opção mais simples para orientação espacial e a simetria mais facilmente reconhecível, não faltam exemplos contrários.
Na química, mais especificamente na geometria molecular, percebem-se padrões variados: linear, angular, trigonal plana, piramidal e tetraédrica. Na biologia, simetrias radiais, além da bilateral. Na geometria e na natureza, estruturas fractais. Na matemática, um infinito de frações no intervalo fechado entre os números 1 e 2…
Em que pese o poder de explicação, seja pela simplicidade conceitual, seja pela recorrência nos processos e fenômenos da natureza, devemos ter duas (não pude escapar) preocupações em mente.
A primeira é que muitas das categorias que se nos apresentam dualisticamente, na verdade, como na matemática, comportam uma infinidade de nuances.
A segunda é que haverá sempre uma necessidade de superar essas dicotomias para chegar ao real entendimento dos fenômenos em que se aplicam.
Entender vida e morte como parte de um mesmo ciclo, estabelecer a unicidade da matéria e da energia, reconciliar corpo e alma, entender a real distinção entre bem e mal…