O impacto de argumentos falaciosos

Infelizmente, há muito conteúdo nitidamente falacioso, alguns notadamente de má-fé, em todos os canais de produção e distribuição de informação. (Esta afirmação não é conclusão de nenhum argumento, nem a medição objetiva e comprovada dos fatos, apenas minha percepção, preocupação e motivação para continuar escrevendo)

O impacto de uma informação falsa, tendenciosa, imprecisa, é difícil ser medido, mais difícil ainda ser reparado em toda a extensão de suas consequências.

Creio que estamos presenciando um efeito de espiral viciosa em que a proliferação de conteúdo falacioso provoca um aumento polarização indevida de temas e é retroalimentada por este aumento do radicalismo e da intolerância, com consequências de proporções desastrosas para o ambiente político e para a harmonia da sociedade brasileira.

Tudo isso porque, embora esteja mais fácil produzir, disseminar, pesquisar, verificar conteúdo, dentro do ambiente digital, a maioria da população optou por apenas disseminar, compartilhar aquilo que lhe parece verdadeiro, acreditando com isso estar a exercer seu direito de expressar o que pensa.

A mídia digital favorece a participação ativa da população, mais do que a mídia tradicional, mas a qualidade desta participação tem deixado a desejar.

Poucos produzem conteúdo original. E entre estes, estão os que produzem conteúdo tendencioso, falso, manipulador, pois já notaram o poder de infiltração e a vulnerabilidade dos usuários.

Normalmente, o conteúdo nos é empurrado de alguma forma, ainda que pareça que foi escolhido por nós. Seja abusando das ferramentas de disseminação de conteúdo, seja pela atuação de algoritmos que direcionam esta escolha, afunilando nossas opções ao invés de escancará-las.

Poucos questionam o conteúdo que se lhes apresenta. Poucos vão atrás de outras fontes.

Muitos, no afã de manifestar opinião sobre toda variedade de assuntos não se tem feito acompanhar de igual afã de aprofundar-se no seu conhecimento, e o que vemos são milhões de pessoas a concordar e repassar conteúdos, sem análise crítica alguma.

Se, em condições normais um argumento falacioso não resistiria ao confronto com a veracidade dos fatos ou a validade das ideias que o infirmam, atualmente, o fato de não termos um ambiente digital propício ao debate de ideias, faz com que seu impacto multiplique-se na velocidade com que é compartilhado.

Por outro lado, embora todos devam se responsabilizar pelas consequências das ideias em que baseiam suas ações e da forma que as disseminam, de modo a reparar eventuais danos causados a outras pessoas, a velocidade de disseminação dos conteúdos não se faz acompanhar da mesma velocidade e efetividade em repararem-se-lhe os efeitos negativos.

Desta forma, numa espiral viciosa, vê-se substituir o debate aberto, democrático, republicano por retaliações de igual tom e calibre, nivelando por baixo a qualidade da informação, num diálogo de surdos-mudos.

EVITEM DISSEMINAR O LOROTAVÍRUS

COMBATAM A PANDEMÍDIA

O ambiente dos meios de comunicação digital

O século passado viu surgir o conceito de comunicação de massa. Acompanhando o ritmo acelerado da evolução tecnológica, a comunicação na sociedade humana mudou drasticamente.

Além dos novos meios, como o rádio, a televisão, o cinema e a música gravada em suportes físicos, outros meios tradicionais, como jornais, livros e revistas, passaram a ter produção em larga escala e distribuição em escala global.

A comunicação de massa caracteriza-se pela assimetria entre o emissor e o receptor da mensagem. O canal da comunicação não está disponível na mesma medida e condições para ambos. Não se estabelece um diálogo, propriamente dito. Os grandes conglomerados são vistos como representantes ou propriedade mesmo de classes dominantes, que produzem e disseminam informações e conteúdos alinhados a seus interesses.

Mais para o fim do século XX estava-se pavimentado o caminho para que a comunicação pudesse se beneficiar dos avanços da informática em todos seus aspectos e todos seus efeitos: variedade de formatos; ferramentas mais simples; plataformas de distribuição cada vez mais acessíveis.

Contudo, este novo ambiente em transformação, em que se dá a comunicação digital, em que pese poder democratizar a produção de conteúdos, tampouco restabeleceu alguma simetria, reciprocidade ou condição para diálogo efetivo e produtivo.

Devem ser rediscutidas com profundidade e responsabilidade, por todos os setores da sociedade, as muitas questões relacionadas ao fenômeno da comunicação, aplicadas a esse novo ambiente, tais quais:

  • princípios da liberdade de pensamento e liberdade de expressão
  • qualidade do conteúdo
  • responsabilidade pelo conteúdo veiculado
  • marco legal regulatório
  • segurança da informação

Por enquanto, o que vemos é um ambiente propício à proliferação de conteúdo de procedência duvidosa, uma profusão de fontes, inclusive assim entendidas as fontes secundárias, que não produzem, mas reproduzem, repassam conteúdo sem maiores preocupações.

As dimensões do argumento falacioso

Ao argumentarmos, sobre qualquer assunto, o que fazemos é buscar explicar com base em que encadeamento de fatos e/ou ideias chegamos a uma determinada conclusão.

Podemos argumentar a partir somente de ideias, a partir somente de fatos ou a partir de fatos e ideias, mas a conclusão será sempre uma ideia, nunca um fato.

Aos fatos e ideias trazidos para fundamentar uma argumentação chamamos premissas.

A conclusão de um argumento pode ser usada como premissa em uma argumentação subsequente.

Para que um argumento seja válido, ou seja, para que sua conclusão seja verdadeira, é necessário que todos os fatos e ideias em seu interior sejam verdadeiros.

Se alguma ideia utilizada como premissa na argumentação for a conclusão de uma argumentação anterior, terá seu valor de verdade condicionado à validade desta.

Mas, apesar de necessário, não é suficiente que os fatos e ideias usados como premissas sejam verdadeiros para que a conclusão do argumento seja verdadeira.

É necessário também que o encadeamento, as relações entre essas premissas respeitem os critérios da lógica formal, traduzidos no uso da linguagem verbal de forma clara e inequívoca.

Falácias são aqueles argumentos cuja conclusão não se sustenta logicamente em suas premissas.

Não é necessário supor que por trás da falácia exista uma intenção de falsear a verdade. A deficiência pode dever-se ao desconhecimento do real valor de verdade dos fatos e ideias empregados na argumentação, ou em erro na sua lógica interna, sem que haja má-fé.

A ma-fé evidencia-se quando, ao ser confrontado com possível falha de sua argumentação, o autor:

  • nega-se de pronto a reavaliá-la
  • apressa-se a apresentar novos argumentos, ao invés de defender o argumento atacado
  • utiliza-se, nestes novos argumentos, de fatos de difícil comprovação
  • abandona os fatos ou passa a privilegiar o uso de ideias nas suas premissas sem, no entanto, demonstrar sua validade
  • apela para argumentos cada vez mais claramente falaciosos: apelo a força, a piedade, a consequências, a preconceitos, a emoção; fuga de assunto e ataques pessoais.

LEIAM O GUIA DAS FALÁCIAS