Coronavírus: de pandemia a pandemônio

É como dizem, existem três tipos de mentiras: a comum, a escandalosa e a estatística…

Eu mesmo cheguei a dizer que, tendo em vista que não há dados médicos tempestivos, principalmente porque falta testagem, deveríamos nos basear em dados estatísticos para determinar as políticas de saúde pública.

Mas a forma como a estatística tem sido utilizada dá margens a todo tipo de manipulação de dados. Não de seus valores, que se presumem íntegros, mas da sua escolha.

Em https://transparencia.registrocivil.org.br/registros , obtive os seguintes dados, referentes aos totais de óbitos registrados de janeiro a julho:
2017=586.753
2018=691.189
2019=730.991
2020=796.427

O aumento entre 2018 e 2017 foi de 17,8%.
Entre 2019 e 2018 apenas 5,75%.
Entre 2020 e 2019, 8,95%.
Números bastante irregulares, não? O que isso significa? Significa que qualquer análise que venha ser feita tem que se aprofundar um pouco mais.

O senso comum faria supor que o aumento anual do número de óbitos devesse acompanhar o aumento vegetativo da população. No entanto inúmeras variáveis interferem nestes números, por exemplo:

  • melhoria da qualidade e expectativa média de vida decorrente de políticas públicas de saneamento básico, distribuição de renda, segurança alimentar;
  • diminuição de mortes violentas em decorrência do êxito das políticas de segurança pública;
  • diminuição de mortes em decorrência de doenças endêmicas em decorrência do êxito de programas de saúde pública
  • diminuição de mortes entre 0 e 1 ano de vida decorrentes doença de programas de saúde natal e neonatal
  • aumento de mortes por desastres, naturais ou não, ou qualquer outra causa perceptível

Parece que, cansados de manipular a população com informação baseada em dados médicos imprecisos, encontraram uma fonte de dados precisos para usar em campanhas de desinformação: os dados estatísticos.

Lembrando que os dados médicos, tanto quanto os estatísticos, prestam-se a manipulação de qualquer viés, seja para justificar a liberação das atividades, seja para defender o confinamento.

O que temos de fato é que o número de óbitos entre janeiro e agosto cresceu 8,95% entre 2019/2020 em que pese ter havido uma diminuição das mortes por causas violentas no período.

Enquanto não levamos a sério a questão, enquanto não buscamos utilizar todas as informações disponíveis de uma forma isenta para encontrar soluções plausíveis e ponderadas, enquanto não desenvolvemos uma estratégia inteligente para lidar com a pandemia, reforço a sugestão abaixo, recuperada do WhatsApp…

24/04/2020 14:57 – Mais uma vez, para a surpresa de muitos e o desespero de todos, o inevitável aconteceu e a pandemia está prestes a transformar-se em um pandemônio.

A ciência da medicina já não é capaz de fornecer os dados confiáveis e tempestivos necessários para a tomada de decisões relacionadas às políticas públicas de combate à disseminação do vírus e ao tratamento dos doentes.

Mortes acontecidas há mais de uma semana somente agora são contabilizados como causadas pelo coronavírus. Essa defasagem é fatal dada a taxa exponencial de crescimento do número de infectados. As decisões tomadas com base nos números existentes há uma semana não farão frente as medidas que realmente eram necessárias.

Por isso, por não termos dados confiáveis, temos que usar a previsão mais pessimista. Afrouxar o isolamento, confiando em dados irreais, irá aumentar a quantidade de infectados e nos levar ao nosso destino anunciado, o colapso do sistema de saúde para enfrentar a pandemia.

Os que faziam troça, comparando a quantidade de mortos devido à covideodó 19 com vítimas de outras mazelas, com que aprendemos a conviver, como balas perdidas e dengue, entenderão finalmente o significado da palavra "exponencial". Sim, porque a vítima de dengue não transmite a doença para as pessoas no seu leito de morte ou no seu velório, muito menos a vítima de bala perdida tem a chance de disparar a esmo em seus estertores nos becos e vielas nas comunidades.

O que fazer então? Se a morte é a única certeza que temos nesta vida, vamos pautar nossas ações com base neste dado inexorável. Adotar como premissa que, descontado o crescimento vegetativo da população, o aumento do número de mortes em comparação com com os anos anteriores deve-se todo ao coronavírus.

2 comentários em “Coronavírus: de pandemia a pandemônio”

  1. comentário do autor:

    A proposta realmente é bastante simplória, pode ser refinada com a análise das causas conhecidas dentre total de óbitos, mas o que eu quero dizer é que na dúvida é melhor considerar que foi covid do que gripe, para definição das necessidades da política pública de saúde.

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  2. comentário do autor:
    Só para deixar bem claro, não estou desconsiderando a validade da Estatística, pelo contrário, preconizo que é o único jeito de tratar os dados da pandemia. Mas é uma ciência bastante complexa e está sendo usada e levianamente, assim como a Medicina.
    A proposta realmente é bastante simplória, pode ser refinada com a análise das causas conhecidas dentre total de óbitos, mas o que eu quero dizer é que na dúvida é melhor considerar que foi covid do que gripe, para definição das necessidades da política pública de saúde.

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