Careca de não saber

O cara era até cabeludo, mas perdeu uma aposta e teve que raspar a cabeça, na gilete.

Impressionado com a popularidade súbita e dono de uma personalidade um tanto obsessiva, passou a raspar a cabeça todo dia.

Ao cabo de alguns anos, decidiu que era hora de deixar os cabelos crescerem novamente e parou de raspar a cabeça.

Não lhe cresceu um fio sequer. No decorrer daqueles anos, sem perceber, tivera um problema de “queda de cabelo” que o deixou definitivamente careca.

O Brasil já apresentava sinais de calvície, quer dizer desemprego, bem antes do advento da pandemia, mas cresceram a níveis que só não são descritos como alarmantes porque se justificam pelo alarme na área da saúde e porque julgam-se temporários

Durante a pandemia, porém, temos visto a iniciativa de várias agentes econômicos que tentam adaptar sua atividade com o uso de tecnologias pré-existentes ou aperfeiçoamento de processos, que diminuem ou eliminam a necessidade de alguns de seus colaboradores, dispensados neste período de isolamento social.

Por outro lado não tenho visto nenhuma iniciativa de grande porte, seja por parte da iniciativa privada seja capitaneada pelo setor público.

Em que pesem as dificuldades inerentes à crise do coronavírus, muita coisa poderia (deveria) estar sendo feita. Por exemplo:

  • criação e disseminação de conteúdo profissionalizante ministrável à distância
  • abertura de discussões com os representantes de cada setor da atividade econômica acerca das políticas públicas que estariam sendo gestadas, para ser implementadas assim que as condições sanitárias permitirem, de forma a alinhar o planejamento das ações e seu cronograma de implantação
  • reposicionamento da diplomacia comercial face à necessidade de proteção dos postos de trabalho e do mercado interno
  • elaboração, discussão e compartilhamento amplos de análises de cenários para os vários setores da economia
  • definição imediata de um pacote de grandes obras, que possam vir a ser atrativas para grandes investidores e competir pelo capital transnacional
  • coletar, avaliar, orientar e replicar iniciativas de enfrentamento pós-crise no seio da sociedade
  • dar destaque e visibilidade o que estiver sendo feito para garantir futuros postos de trabalho

As muitas e louváveis iniciativas provenientes da sociedade civil dirigem-se a mitigar os efeitos da queda do nível de emprego, pouco impacto tendo na geração de novos postos de trabalho.

As esferas do poder público parece não estarem coordenadas e o que quer que estejam fazendo não tem sido amplamente discutido e compartilhado com a sociedade. Pode estar havendo falha na comunicação institucional, bem como na cobertura da imprensa.

Se estamos achando que os postos de trabalho vão renascer após a pandemia, temos algo que aprender com o careca.