Sinto-me na obrigação com meus poucos leitores de esclarecer a trajetória deste blog até o momento e as perspectivas que se apresentam.
Senti necessidade de ter um espaço mais apropriado para expor algumas ideias que me surgiam ao tomar contato via WhatsApp com o que pensavam outras pessoas. Incomodava-me ver tantas mensagens apócrifas, mal redigidas, descomprometidas com a lógica argumentativa, estrategicamente jocosas, reconhecida ou inadvertidamente distanciadas da realidade dos fatos conhecidos e notórios, consciente ou inconscientemente falaciosas.
Desde o início, deixei claro que fatos, especialmente os controversos fatos da política nacional, não seriam objeto ou matéria-prima por aqui.
Já as ideias que me interessam foram se desdobrando, relacionando ou agrupando naturalmente. Tentei organizá-las abrindo uma página específica para aquelas que identifiquei como principais, irredutíveis.
A preocupação inicial com a validade das informações, ou melhor afirmações que circulam nas redes sociais me fez refletir sobre o conceito de verdade e realidade e as possibilidades do conhecimento.
A dupla natureza da verdade, seja como conformidade entre realidade e discurso seja como consenso ou convenção socialmente atingidos, ganha novos significados sobre o pano de fundo das novas tecnologias digitais, que proporcionam uma velocidade de produção e compartilhamento de informação além da capacidade humana de verificar sua procedência ou questionar sua validade. Fontes secundárias passam então a preponderar, legitimando-se não na observação própria ou aferida por uma comunidade científica, mas sim por adesão guiada por critérios subjetivos inverificáveis.
Nessa esteira também surge a ideia de democracia digital, com todas as ameaças distópicas, desde a recriação da realidade por algoritmos até o fim da história pela supressão do conhecimento factual e sua substituição pela coleta em tempo real de meras opiniões, passando pelo estágio já em curso de desconstrução e manipulação de fatos, originariamente nas esferas política e ideológica, passando em breve para a implosão do próprio sistema racional em que se funda o método científico que nos proporcionou o avanço tecnológico que nos trouxe à era digital em primeiro lugar…
O fato de que o conhecimento tenha atingido tal nível somente na espécie humana lança luz sobre o evolucionismo e necessidade de refletir sobre seu impacto em todos os campos, em como é difícil substituir um paradigma, no caso o criacionismo, em todos os seus efeitos, e mais ainda, suprimir seu pressuposto de um ser criador.
Pensar a evolução da espécie humana pode ser feito analisando a maneira como usamos os recursos que encontramos na natureza e que passamos a transformar. É o despertar da cultura, que na ótica criacionista nos foi dada pronta com o rótulo de natureza humana. Na verdade, até aqui, por milhões de anos compartilhamos a mesma natureza evolutiva que outros primatas, como comprova o sequenciamento genético.
O uso cada vez mais sofisticado dos recursos é propiciado pela tecnologia, desenvolvida por sua vez a partir dos conhecimentos adquiridos, aperfeiçoados e acumulados ao longo de gerações devido ao que se tornou o método científico, que herda da tradição filosófica a dúvida sistemática, que favorece a constante busca de conhecimento, ao invés da estagnação determinada pela imposição e aceitação de dogmas.
Pensar a evolução como a formação biológica simultânea de órgãos sensoriais e processadores das informações captadas, numa escala de milhões de anos, reconcilia empirismo e apriorismo como formas de aquisição de conhecimento indissociáveis.
Pensar que juntamente com a evolução biológica, evoluíram a cognição, a linguagem e as relações sociais, por sua vez, esclarece como a moral é fruto da evolução e não de qualquer outra coisa. Bem e Mal nada mais são do que percepções das manifestações dos instintos individuais e coletivos existentes em qualquer ser vivo em busca de sobrevivência individual e enquanto espécie.
Essas e outras dualidades, oposições dialéticas certamente devem ser repensadas, sintetizadas ou reduzidas a um denominador comum, seja na explicação dos fenômenos observados na física de partículas, seja na aparente contradição entre o instinto, por falta de termo melhor, de preservação individual e o mecanismo, termo deliberadamente inapropriado, de cooperação para sobrevivência de espécie.
A compreensão desses dois vetores indissociáveis da evolução, mormente a aceitação do princípio da busca pela sobrevivência individual, sem a valoração negativa que lhes dão as fadigas religiosas e as teses comunistas, explica a um só tempo a hipocrisia em que caem as religiões cristãs e a falência das experiências do socialismo real.
A maneira como esses grandes temas e ideias estruturantes por trás deles se entrelaçam me fez pensar em uma explicação fractal para a personalidade. Cada ato ou pensamento de uma pessoa traria embutida todos os elementos que a constituem.
Espero organizar os assuntos, aprofundar os temas, preencher as lacunas abertas pela especulação desenfreada.
E continuar especulando…
EM TEMPO
Ainda não abordei um tema essencial que é a compreensão do “vetor cooperação” e sua interação com o “vetor individualista”, para entender como ocorre a evolução das espécies e onde sobressaem outras duas ideias poderosíssimas: a teoria dos jogos e o comportamento de bando…