CONSIDERAÇÕES SOBRE A PRIMEIRA AULA

Prezado Professor Desidério,

Cumprimento-o encantado pela clareza e objetividade de sua exposição. Sua abordagem vem totalmente ao encontro das minhas expectativas.

Uma de minhas dificuldades no estudo da Filosofia é justamente o apego de setores da Academia a discussões datadas e marcadas por conceitos que merecem revisão face ao inegável avanço do conhecimento.

Tomemos, por exemplo, o conceito de verdade. Ora estamos a falar da realidade propriamente dita, externa e objetiva, e neste ponto podemos apenas ponderar se algo realmente existe, se é apreensível e inteligível pelo aparato sensorial-cognitivo que nos dotou a evolução biológica; ora estamos a falar da conformação dos discursos que se produzem a respeito daquela realidade inicial.

Entendo que a reconciliação entre ambos aspectos somente é possível por meio de um terceiro aspecto ou dimensão da realidade que é a sua caracterização como construto social. É a aceitação pelo grupo que irá conferir validade a qualquer discurso, independentemente de qualquer critério de validação lógico-formal.

Isso explicaria porque, em século 21, ainda temos que lidar com verdades dogmáticas, sejam elas de cunho religioso, ideológico ou qualquer outro que pressuponha ou aceite a existência de “donos da verdade”.

Apontaria também, quiçá, se me permite a ousadia, uma resposta possível para a perplexidade face à puntualidade da eclosão do pensamento científico racional, embora talvez só faça remeter à perplexidade consagrada diante do surgimento do pensamento Grego como um todo: o surgimento de uma forma de explicar o universo e seus fenômenos baseada em assertivas providas de compromisso com a verificação sistemática das relações de causa e efeito, observação sistemática, repetitiva e reproduzível de eventos, acúmulo e registro sistemático desses esforços para referência futura e mola propulsora no binômio curiosidade e possibilidade de falseamento somente seria possível em um ambiente em que existisse também o embrião da Democracia.

Não à toa, creio, quando atenta-se ao pensamento e método científicos, está-se também a violar e a por em risco esta última.

Até a próxima aula!

P.S. Ato falho de minha parte não mencionar o aspecto ou dimensão do conceito de verdade central no contexto da lógica formal. Entendo que privilegiando sua aplicação às narrativas, raciocínios, discursos e argumentos podemos filtrar aqueles que não se sustentam sequer logicamente, independentemente de qualquer verificação fática.

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