Todos os posts de luisbsbdf

Basta de polarização

Quais as lições aprendidas com os eventos que precederam a tomada de poder pelos militares em 1964 e o período em que poder foi exercido com restrições à participação política da população?

Que devemos identificar e nos armar contra nossos inimigos internos na política nacional?

Que devemos entender a situação social, política, econômica atual como repetição ad aeternum do conflito ideológico histórico entre a esquerda comunista e a direita capitalista?

Que em momentos em que as instituições basilares do Estado de Direito parecem falhar, ou falham, podemos recorrer às Forças Armadas para executar suas funções?

Adianto que não comungo nenhuma dessas opções e pretendo em breve explorar os temas.

Por ora, ressalto que, naquele momento, cada um dos campos ideológicos mais representativos julgava-se detentor de toda a verdade sobre o que era melhor para a Nação, restando no outro lado apenas ideias consideradas contrárias ao interesse nacional.

Como não reconhecia no outro lado práticas ou ideias válidas, tampouco considerava a possibilidade de diálogo. Via, portanto, seus opositores como inimigos a serem perseguidos, torturados, exterminados, sequestrados, fuzilados, exilados…

É isso que acontece em momentos em que a via democrática é perdida de vista, em que a polarização das ideias as torna incomunicáveis, inconciliáveis

Faço um apelo pelo fim da produção e compartilhamento de mensagens cujo conteúdo estimule essa polarização.

A situação do Brasil é complexa. Nosso País comporta diversidades de toda ordem, não o entenderemos a partir de visões particulares, parciais, partidaristas, sectaristas, autoritárias, antidemocráticas.

Devemos, em cada assunto ou tema que se coloque, procurar pontos de convergência, estabelecer uma agenda mínima comum, ouvir e entender o lado oposto, buscar conciliação de interesses e alinhamento de ações.

Temos todo um arsenal democrático à nossa disposição: liberdade de imprensa, liberdade de expressão, liberdade de associação, pluripartidarismo, sufrágio universal etc etc etc…

Infelizmente, em nossas mãos, este poderoso armamento tem sido utilizado como metralhadoras giratórias nas mãos de chimpanzés.

Guia das Falácias

Demonstrar a fragilidade de um argumento é bem mais simples do que parece. Sobretudo, é muito mais fácil e proveitoso do que investigar e tentar provar as intenções da pessoa ou grupo de pessoas que o elabora, sustenta, defende ou dissemina.

O que torna um argumento frágil? O principal mal de que padece uma argumentação é a presença de falácias em seu interior. Essas falácias assumem diversas formas e se inserem nos argumentos como um vírus, contra o qual a maior parte da população não tem imunidade.

Ao contrário da pandemia, para combater a pandemídia devemos não usar máscaras e não podemos simplesmente lavar nossas mãos.

O Guia das Falácias, de Stephen Downes, com tradução e adaptação de Júlio Sameiro pode não ser a panaceia, mas não tem contra-indicações nem efeito colaterais nocivos. Pode ser usado sem parcimônia para detectar e evitar a propagação destas pragas!

https://criticanarede.com/falacias.html

Reencontro

Não é apropriado falar em reencontro, quando no máximo se encontraram nossos olhares e sequer tenho certeza se ela me reconheceu.

O fato de usarmos máscaras cobrindo a parte de baixo do rosto e o fato de que não tenho mais a vasta quantidade de fios de cabelo no topo de minha consciência me tiram a certeza de ter sido reconhecido.

Quanto a ela, a falta da tinta no cabelo, que usava para puxar o tom para um loiro acinzentado, parece plenamente compensado pela presença dos fios grisalhos.

Sei que era ela e, embora surpreendido, reagi com a mesma expressão de admiração que antes a fizera apaixonar-se por mim… Sim, assim que ficamos suficientemente íntimos, ela me contou que o modo como a fitava nos olhos, pelo tempo exato de fazer-me notado, antes de abaixar o olhar, soava como se eu lhe pedisse desculpas por ter feito um elogio impróprio.

Via-me por respeitoso e elegante, cansada de olhares que se prolongavam inconvenientemente, dos quais procurava desvencilhar-se antes que se fizessem seguir de comentários grosseiros, ainda que pensados como elogios.

A boca entreaberta, no entanto, que completava e tornava indisfarçável o encanto que me causava, ela não pode ver. Assim como não pude eu mais do que adivinhar um sorriso, que tenho certeza aconteceu, ainda que não me tenha reconhecido.

Foi esse sorriso pronto, engatilhado e disparado em todas as direções que me fez vítima pela primeira vez de uma paixão.

A primeira vez que o apontou contra mim, com precisão de atirador de elite, eu já havia sido alvejado tantas vezes pelos ricochetes das rajadas que ela disparava aleatoriamente que, sozinho, empalideceria qualquer estatística de vítimas inocentes.

De fato, vê-la sorrir para outra pessoa qualquer era suficiente para amá-la, mas quando a vi caminhando na direção em que me encontrava parado, penso que temi por minha vida.

A distância, uns cinco metros, foi percorrida num tempo superior aos menos de dois segundos que durava meu elogio mudo, e não fazia sentido desviar o olhar antes de cumprimentá-la.

Percebendo talvez meu desespero, caprichou na pontaria, no sorriso e no andar. Fez fogo assim que travou a mira e continuou, atirando covardemente, deliciando-se com meus estertores, até parar e dar o tiro de misericórdia, no meio da minha cara: – Quer uma carona?

Mas não foi isso que me veio à lembrança ao revê-la. Nos dois segundos que nos entreolhamos, uma eternidade me inundou. Não a eternidade dos poucos anos que passamos juntos, tampouco a eternidade das décadas que se seguiram e fizeram dobrar o século.

A eternidade de uma dúvida.

continua….

Eu sonho com ovelhas elétricas

Tempo corrigido, paixões acomodadas
O outono passado nunca teve fim
Os rangidos e as cores da sirene se fundem
A cena do crime perfeito foi inventada

Antes nos conhecíamos, agora apenas combinamos
Há séculos não eclode um ovo

A música não preenche mais pautas
A música não enche mais capas
Ninguém parece dar a mínima
A que merda lhe entra pelos ouvidos

Ruas sombrias, batidas ensurdecedoras e encardidas*
Façanhas obstinadas da vida cotidiana
A chuva não desaba, mas também não cessa
Cada gota é uma faísca que cai

Nada dura o suficiente para mudar
O passado estará fora de alcance em breve

  • beat – batida de música eletrônica
  • grime – sujeira impregnada à superficie, mas também um gênero de música eletrônica

i dream of electric sheep

Time amended, passions bended
Last Autumn never ended
Siren's squeaks and colors blend
The perfect crime scene was invented

Once we meet, now we just match
Eggs for centuries haven't hatched

Music no longer fill sheets
Music no longer fill sheaths
No one seems to give a shit
What shit comes up to their ears

Gloomy streets, grime deafening beats
Everyday life's gritty feats
Rain won't pour, but won't stop either
Every drop is falling glitter

Nothing lasts enough to change
Past will soon be out of range

Breaking news


You can’t figure what I wish
Pay no heed to what I think
Hardly hear me when I speak
Make no sense from what you hear


“Nothing happens through your days?
Anything you’d care to mention?
In this whole world going crazy
Something must draw your attention”


There are many things indeed
But I’m lost in my distractions
What I lack, what I’m in need
Is a pause for my reflections


All I expect and ask of you
Please, believe in dreams come true
I would offer you my view
Just before the break of news

Reflexão inicial

27/03/2020 16:51 – Luis Emilio: Corrigido:

É tempo de refletir e a minha primeira reflexão é: qual é o tempo que não seja de refletir?

Como Nação, não temos o direito de agir irrefletidamente, mas é o que temos feito. E isso nos têm trazido repetidas vezes a situações em que nos vemos frente a escolhas difíceis.

Devemos ter em mente que as opções não surgem do nada; cada escolha determina nossas opções futuras e cada opção que temos no presente é determinada por nossas escolhas passadas.

Cada vez que nos deparamos com escolhas difíceis, em que as opções são igualmente dolorosas, podemos admitir que isso se deve a decisões erradas anteriores ou podemos nos considerar vítimas das circunstâncias, de fatores externos, imprevisíveis.

A segunda opção vem junto com a atitude de continuar agindo irrefletidamente.

A primeira comporta a armadilha de, ao invés de analisar profunda e imparcialmente o encadeamento dos fatos pretéritos, tão somente buscar culpados no passado imediato.

O fato é que somos um país extremamente vulnerável. Qualquer espirro do outro lado do mundo põe em cheque a capacidade do nosso sistema de saúde; qualquer gripinha ou resfriadinho revela nossa falta de educação, solidariedade humana, espírito coletivo e coesão social; qualquer marolinha no preço internacional das commodities demonstra a fraqueza de nossa economia.

Chegamos a este momento em que temos que escolher entre reduzir a atividade econômica ou colocar em risco a vida de parte da população, principalmente daqueles que hoje já não fazem parte da população economicamente ativa.

Para os que defendem a segunda opção, a escolha é mais fácil: de um lado, preservar a atividade econômica; do outro, preservar a vida da parte da população que não colabora tanto mais para essa atividade econômica. A conta é ainda mais fácil. Trata-se de medir o PIB. As vidas perdidas também entram na conta, mas com sinal positivo, aliviando os gastos com uma parcela da população que já não produz tanto.

Entretanto, ainda que provem na ponta do lápis que a melhor opção para viabilizar o país economicamente, para reduzir a crise e acelerar a retomada após ela, afirmo que a decisão ética, neste caso, não pode ser pautada numa visão de futuro, e sim num ajuste de contas com o passado.

Não podemos mudar o passado, mas não devemos nos esquivar de pagar pelos erros que cometemos. E o preço não pode ser pago com vidas humanas, ainda que sejam vidas já quase totalmente vividas. Há de ser pago com o sacrifício futuro dos que sobrevivermos e a força moral que precisaremos para tanto, e que está a se forjar hoje, estará seriamente comprometida se tivermos que carregar a culpa de aceitar o risco de abreviar um dia que seja da vida de nossos pais e avós.

………

Publico aqui este que foi um dos primeiros textos que escrevi para expor minha preocupação com o rumo que a crise da pandemia causada pelo coronavírus apontava.
De certa forma, estou preso nesta reflexão desde então e procurarei organizar ideias, buscando refúgio na lógica e no bom senso (que infelizmente, é constantemente superado pelo senso comum).
É a única forma que enxergo de fazer frente à descrença, à impotência, à desconfiança, às incertezas e às animosidades que campeiam apocalipticamente entre a pandemia e a pandemídia.