Arquivo da categoria: Pensando sozinho

Rótulos (Tags)

Uma alternativa à censura na Internet

Assim como em quase todo campo de atividade, a pandemia fez sentir seus efeitos escancarando deficiências, expondo assimetrias, revelando desregulamentação da comunicação por meio das mídias digitais.

Em breves considerações, ponderei que devem ser rediscutidas com profundidade e responsabilidade, por todos os setores da sociedade questões como: princípios da liberdade de pensamento e liberdade de expressão; qualidade do conteúdo; responsabilidade pelo conteúdo veiculado. https://pensaaquicomigo.com/2020/08/08/o-ambiente-dos-meios-de-comunicacao-digital/

Já existem filtros pelos quais as diversas plataformas buscam evitar conteúdos difamatórios, atentatórios a moral e aos bons costumes e à própria liberdade de expressão, que façam apologia ao crime, racistas, sexistas, xenofóbicos…

Fato é que existe uma zona cinzenta entre a disponibilidade da rede para emissão de opiniões pessoais e a vedação àqueles discursos socialmente reprovados.

Uma alternativa à censura de conteúdos por alguma instância reguladora, que pode favorecer o autoritarismo antidemocrático, é o fortalecimento do senso crítico dos usuários, evitando repassar conteúdos inadvertidamente.

No entanto, a facilidade de criar e repassar conteúdos tem exacerbado outra característica da interação pelas redes sociais: apesar de não ter controle absoluto sobre o conteúdo que lhe é despejado diariamente, seja por algoritmos ou por outros usuários, usuário se vê tentado a emitir opinião sobre tudo e o pior, de bate pronto, sem tempo de aprofundar seu conhecimento sobre os assuntos.

Imagino que um dia poderemos utilizar a soma das opiniões expressas pelos usuários que produzem e disseminam conteúdo digital para garantir legitimidade e veracidade ao conteúdo vinculado.

Isso seria possível se o conteúdo fosse rotulado de acordo com uma série de critérios a ser definida e que depois seriam verificados pela comunidade, por meio de um mecanismo como blockchain.

Inicialmente, estes rótulos, que seriam escolhidos pela pessoa que publicasse ou repassasse o conteúdo, poderiam pelo menos identificar o assunto tratado de modo que usuários pudessem acionar filtros para eliminar assuntos que não lhe interessam. Nuances de opinião ou direcionamento poderiam também ser explicitadas previamente pelos rótulos.

Também poderia ser mais difundida a customização da escolha e recepção de determinados tipos e formatos de arquivo, permitindo esse bloqueio de vídeos, fotos, gifs, memes, figurinhas a critério do usuário.

Providências como estas poupariam tempo do usuário e tráfego de dados indesejáveis na rede.

Dualidades

Não me parece exagero a afirmação de que enxergamos, entendemos e explicamos o universo recorrendo a dualidades. Vida e morte, espírito e matéria, luz e treva, bem e mal…

Talvez a dualidade esteja implícita, enquanto princípio, na própria natureza do universo. Talvez seja uma imposição à nossa capacidade dedutiva, uma limitação ditada pelo senso comum à razão.

Fato é que, seja imaginando um universo constante regido por princípios opostos e complementares, seja imaginado um momento em que a unidade primordial começa a se desdobrar para originar toda a variedade observada a seu redor, o homem coloca o número dois como estágio necessário para atingir a multiplicidade.

Em que respalde-se esta noção na observação de inúmeros processos básicos, como a reprodução dos seres unicelulares e das células dos seres pluricelulares; as forças de atração e repulsão magnéticas e as cargas elétricas; ainda que seja a opção mais simples para orientação espacial e a simetria mais facilmente reconhecível, não faltam exemplos contrários.

Na química, mais especificamente na geometria molecular, percebem-se padrões variados: linear, angular, trigonal plana, piramidal e tetraédrica. Na biologia, simetrias radiais, além da bilateral. Na geometria e na natureza, estruturas fractais. Na matemática, um infinito de frações no intervalo fechado entre os números 1 e 2…

Em que pese o poder de explicação, seja pela simplicidade conceitual, seja pela recorrência nos processos e fenômenos da natureza, devemos ter duas (não pude escapar) preocupações em mente.

A primeira é que muitas das categorias que se nos apresentam dualisticamente, na verdade, como na matemática, comportam uma infinidade de nuances.

A segunda é que haverá sempre uma necessidade de superar essas dicotomias para chegar ao real entendimento dos fenômenos em que se aplicam.

Entender vida e morte como parte de um mesmo ciclo, estabelecer a unicidade da matéria e da energia, reconciliar corpo e alma, entender a real distinção entre bem e mal…

Falar é fácil, difícil é fazer-se entender – Parte II

Ao decidir escrever o blog pensa aqui comigo confesso ter sido movido por várias pretensões, as quais tenho declarado abertamente, de modo tanto a atrair a atenção do leitor que se identificar com os temas e abordagens propostos, quanto para afastá-los tão logo creiam que não estou dando conta do recado.

Dito onde pretendo chegar, noto a necessidade de indicar de onde estou partindo. Pretendo elaborar uma lista com fontes onde se encontrem ideias que achei interessante e incorporei livremente a meus argumentos. Quando a referência for mais específica, a destacarei no próprio post.

Não tenho pretensões científicas ou acadêmicas, mas julgo-me suficientemente “treinado” para fugir do senso comum, da mera opinião, e da especulação infundada, que abundam todas as formas de produção, distribuição e consumo de “informação”.

Tratarei deste assunto com mais tempo, por ora cabe enfatizar que vem daí minha maior motivação: oferecer algo diferente, em termos de ideias, de abordagem e de atitude.

Meu modo de pensar envolve basicamente:

  • atitude filosófica: dlstanciamento contemplativo, dúvida sistemática, especulação estruturada
  • respeito ao método e rigor científico: só chegamos neste estágio de conhecimento graças a ele
  • preocupação lógico-formal: principio que informa os anteriores, mas nunca é demais pontuar

Destaco algumas aplicações destes princípios:

  • valorização às ideias mais que aos fatos, em que pese a importância destes para chegar-se àquelas*
  • entendimento das dicotomias (matéria x energia, bem x mal…) como categorias da percepção ou explicação da realidade, e não como sua real natureza
  • preocupação sistemática e metodológica na definição dos problemas: erros conceituais levam a discussões estéreis
  • presunção de legitimidade e boa-fé, independentemente da posição defendida em temas polêmicos: entendida como a coerência entre os meios utilizados para defender uma posição e os aceitos ou colocados à disposição da tese contrária
  • elogio à simplicidade; horror à simplificação: a simplicidade se impõe ao entendimento com naturalidade, buscá-la voluntariamente, forçá-la a expor-se denota nada mais que incapacidade de entender o tema em sua complexidade.
  • renúncia ao uso de suposições em argumentos, exceto se em exercício em que se procure exaurir e comparar as várias possibilidades
  • presunção de multiplicidade de causas: mesmo os fenômenos menos complexos guardam mistérios e surpresas, pois a observação de suas causas jamais é plena

Nestes termos espero fazer-me entender…


  • valorização às ideias mais que aos fatos, em que pese a importância destes para chegar-se àquelas – reconheça-se aqui a dualidade entre empirismo e apriorismo, que perpassa toda discussão sobre as bases do conhecimento humano. Refugiar-me nas ideias, não significa aqui nada além do reconhecimento de que não poderei, no mais das vezes, recorrer a fatos cuja comprovação esteja a meu alcance.

FALAR É FÁCIL, DIFÍCIL É FAZER-SE ENTENDER – PARTE I

Ao escolher o nome do blog, pensa aqui comigo era a minha primeira e única opção. Não estivesse o domínio na Internet disponível, provavelmente não teria procurado outra.

Pensa aqui comigo não é tanto um convite ao debate, embora em algum momento isso possa vir a se tornar inevitável.

Trata-se mais de um esforço de organizar o pensamento de forma que possa ser transmitido sem perda significativa para o entendimento.

Não que seja extremamente complexo, inescrutável, pelo contrário, prezo e prego por sua simplicidade, mas fato é que a comunicação tem suas limitações e armadilhas, imprecisões e ambiguidades.

Sem os devidos cuidados, entre os quais rigor conceitual e formal, precisão gramatical, concisão de texto e clareza de contexto, somos facilmente levados a interpretações subjetivas, a juízos impróprios, a conclusões extravagantes.

Mantida esta preocupação com a objetividade da escrita, resta cuidar do caráter subjetivo, que só pode ser minimizado se o autor explicitar os aspectos peculiares ao seu modo de pensar.

Apesar de indicado na seção Sobre o blog, achei que não seria demais reforçar alguns pontos acima e, mais importante, esclarecer algumas premissas de que me valerei recorrentemente e que, talvez, fujam um pouco do senso comum.

É o que farei em FALAR É FÁCIL, DIFÍCIL É FAZER-SE ENTENDER – PARTE II…


Continua

Repatriação de recursos ilícitos

A “repatriação” de recursos sob a égide da Lei n° 13.254/2016, permitiu a regularização de cerca de 160 bilhões de reais havidos por brasileiros no exterior, gerando uma arrecadação de 48 bilhões de reais (15% de IR e 15% de multa).

Houve restrições quanto a ser utilizada por deputados e senadores que exerciam mandato, outros detentores de cargos na Administração Pública em quaisquer dos três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), seus cônjuges e parentes.

Além disso, a origem dos recursos deveria ser lícita e eles poderiam permanecer no exterior, motivo das aspas no início do texto.

Se abandonássemos todo e qualquer pudor, anistiando todo e qualquer crime existente na origem da obtenção do recurso, aumentando além disso as alíquotas do imposto e da multa e obrigando o efetivo retorno do recurso à economia nacional, poderíamos financiar a reconstrução nacional.

Parece absurdo? Em toda a história da humanidade, praticamente toda acumulação primitiva de capital que permitiu ou impulsionou uma grande mudança ou revolução, comporta um pecado original…


É uma ideia polêmica, envolve conceitos arraigados, cláusulas pétreas do senso comum do cidadão de bem.

Até o mais bem informado pensador não teria dificuldade em afirmar que a ideia fere princípios intangíveis e inegociáveis de ordem filosófica, ética, moral e religiosa sobre os quais se assenta nossa civilização.

Ocorre-me que para validar a ideia, não basta defendê-la de um ponto de vista pragmático.

É necessário argumentar contra o senso comum e contra as mais caras noções de nossa elevada existência enquanto sociedade.

É o que me proponho a fazer.


Continua…

Dúvidas

Acho que a maioria das pessoas se engana ao pensar que a vida é feita de decisões, quando na verdade é justamente o contrário.

Passamos muito mais tempo sentados em nossas dúvidas antes de tomar alguma decisão do que em pé anunciando-as. Longo é o tempo também, deitado inquieto a pensar o que poderia ter sido diferente.

Logo a vida é feita de dúvidas e não de decisões, que por vezes nem acontecem. Muitas vezes passamos direto da incerteza de como agir para o arrependimento de nada ter feito.

Por isso, talvez, aquela época tenha sido tão especial. Por algum tempo não havia dúvida pairando, as que trazia comigo deixaram de fazer sentido e por alguma combinação de fatores de probabilidade desprezível, não foram imediatamente substituídas por outras.

É preciso entender que a ausência de dúvida não é sinônimo de certeza. Esclarecida, uma dúvida não é substituída por uma certeza. Uma outra dúvida rapidamente se abanca no lugar vago sem pedir licença, como numa dança de cadeiras. A certeza, em pé, polida e estupefata.

Naqueles dias, não havia dúvidas, tampouco certeza alguma. Ambas as categorias estavam totalmente ausentes, como se não fizesse sentido essa ou qualquer dicotomia: o mundo não se dividia em temor e esperanças, dor e prazer, angústia e alívio…

Havia apenas duas possibilidades, ser ou não ser.

E fomos.