À deriva em mar deserto
Tudo eu fiz para sorrir
Teu canto trouxe-me perto
De onde nunca mais saí
Em teu canto, tu dizias
"Abra as velas, vem a mim
Cá estou eu, cá estou eu a esperar-te"
Sonhei eu que me sonhavas
Era eu lebre e tu raposa
Tolo barco, agora aderna
Acamado em praia eterna
Você canta "não me toques
Hoje não, quem sabe quando"
Em meu peito, envergonhado,
Se esconde meu coração
Tonto como uma ostra
Confusa como a maré
Presa na rebentação
Entregando-me sem fé
Ouço-te ainda a cantar
"Venha a mim, quero abraçar-te
Cá estou eu, cá estou eu a esperar-te"
Acordo antes das três da manhã
Pensando o que eu posso fazer
Sempre quero algo mais
Do que sempre ser igual ao ao ao
Que passou
Logo, logo estaremos por triz
De voltar ao normal
E ser igual
Tomara que não, não, não
Que tal
Fazermos diferente?
Olharmos para frente
Deve existir um jeito
De decidir sem medo
Depende só da gente
É preciso ouvir
E refletir
Apesar de sermos diferentes
Existe sempre um jeito
De decidir sem medo
Depende só da gente
Nossos erros ancestrais
Ideias que não nos servem mais
Entranhadas, arraigadas, ofuscadas
Devem ficar para trás
Porque não ser, ter, querer, crescer
É só pensar, falar, deixar, mudar
O mundo real e o do jornal
Nunca foi igual
Ao que imaginei
E é por isso
Que eu digo que é preciso
Fazermos diferente
Existe sempre um jeito
De escolher sem medo
Depende só da gente
Há uma ideia nova
Há uma outra opção
Existem vários jeitos
De decidir sem medo
Depende só da gente
É preciso ouvir
E refletir
Apesar de sermos diferentes
Existe sempre um jeito
De decidir sem medo
Depende só da gente
Problema 1: Temos realmente livre-arbítrio, ou é só uma ilusão? Problema 2: Quais são as componentes mais relevantes do livre-arbítrio, e que contributo dão para uma vida humana bem vivida? Problema 3: O livre-arbítrio é compatível com a tese de que todos os acontecimentos são efeitos de causas anteriores?
Desidério Murcho
O que se visa aqui é aprender a tomar melhores decisões, baseadas em melhores deliberações, em vez de decidirmos as coisas mais ou menos aleatoriamente, segundo os impulsos do momento. Deparamo-nos quase a toda a hora com conflitos de valores — duas ou mais coisas que valorizamos, mas que são incompatíveis — e é sempre tentador fazer o que é mais imediato, mais fácil ou mais atraente. Depois paga-se o preço, porque isso que foi mais fácil há dez anos conduziu a uma vida que agora é pior, ou que resultou em doenças, ou que não conduziu à realização humana que agora lamentamos não ter.
Decisões melhores exigem deliberação melhor, e estes são dois dos três elementos importantes para o florescimento humano. O terceiro é o controlo, ou autodisciplina, que nos permite manter a decisão que tomámos, depois de uma deliberação cuidadosa. De nada adianta deliberar cuidadosamente sobre o que queremos para a nossa vida, se depois não conseguimos exercer o controlo necessário para levar por diante as decisões tomadas. Deliberação, decisão e controlo constituem, pois, uma tríade fundamental para compreender melhor aqueles aspectos do livre-arbítrio que têm um impacto profundo no florescimento humano.