Pelo menos desde a Grécia Antiga, há registros de ideias evolucionistas para explicar a variedade de seres vivos observados na natureza, ou seja, que diferentes tipos de seres atualmente existentes descendem de um ancestral comum, diferente de ambos.
Apoiadas na observação das semelhanças anatômicas e morfológicas entre os seres existentes e em alguma parca evidência paleontológica, ressentiam-se, no entanto, de uma hipótese plausível para explicar os processos pelos quais dar-se-ia a diferenciação.
Não deixa de ser irônico o fato de que a explicação alternativa, que veio a reinar praticamente incontestável desde então, criando e deixando efeitos indeléveis em todas as áreas de atividades e de pensamento, baseava-se na descrição de fatos e acontecimentos igualmente, se não ainda mais, inobserváveis.
A ausência de uma formulação lógico-racional capaz de explicar os processos, inobserváveis empiricamente, pelos quais seria possível a evolução, deixou a humanidade a mercê de uma formulação místico-religiosa que pressupõe um ato onipotente de criação, em algum momento remoto específico.
Somente na segunda metade do século XIX, no seio da sociedade científica inglesa, com destaque para Charles Darwin e Alfred Russell Wallace, o evolucionismo atingiu um nível de plausibilidade científica, tornada possível pelo acúmulo de dados geológicos, biológicos, antropológicos e da chamada História Natural, notadamente os obtidos por eles próprios em suas viagens de exploração ao redor do globo, que solidificou conceito da seleção natural.
As consequências, lembrando que estamos falando de explicações para a existência de todas as formas de vida na Terra, da mudança de um paradigma criacionista para outro, evolucionista, são incomensuráveis, mormente quando se leva em conta que àquele modelo associa-se inerentemente a figura de um ser criador necessariamente onipotente, cuja existência obviamente permeará e impactará toda atividade humana, sendo a espécie humana, por presunção própria, o ápice ou o centro de seus desígnios.
Ao que parece o próprio Darwin debateu-se internamente com o conflito resultante de suas observações, que leva à inevitável reavaliação quanto à existência ou papel do ser criador.
O fato de que, por milênios, os milênios em que se forjaram as culturas, as estruturas sociais, as estruturas de pensamento, a maior parte das visões de mundo e concepções éticas e morais, a sua autoimagem, a humanidade tenha vivido na crença de que o mundo observável não passara por transformações sensíveis, desde seu início, talvez explique porque até hoje, passados mais de 160 anos da publicação de sua obra “Da Origem das Espécies por Meio da Seleção Natural ou a Preservação de Raças Favorecidas na Luta pela Vida”), a Teoria da Evolução, embora aceita como fato, não seja completamente entendida principalmente em relação aos seus impactos.
O fato é que, sem abandonar ou reavaliar profundamente o conceito de Deus, temos mantido uma barreira que nos impede de reavaliar e entender quase tudo que se produziu em termos conhecimento humano sem as distorções advindas de tão forte e arraigada concepção.